sábado, 3 de novembro de 2007

O Rock Errou?


Diferente de outros temas quero abordar um, de pouca importância e muita relevância. Como anda o rock no Brasil.

O Rio de Janeiro, estado da qual tenho origem, orgulho e atual habitação, perdeu sua única e heróica rádio rock. Antes de falarmos do derradeiro fim da rádio Cidade, deixe-me resumir um pouco de um outro ícone histórico carioca: a rádio Fluminense. Ela foi responsável pelo surgimento de bandas como Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana e Barão Vermelho. Naquela época, gente da música, levava seus pequenos tapes á rádio, para que as músicas contidas ali fossem ouvidas e executadas. Sem jabá. Sem faz-me-rir*. Numa era pré-internet, descobríamos os valores nacionais através do rádio. Poderia ser um rock blues debochado, com o Barão, com um dos maiores poetas do rock nacional, poderia ser um pop new-wave como o Kid (nome aderido durante alguns anos) ou até, a explosão do pós punk paulista com o Ira!. Sem contar, que com muita fluência, era possível ouvir Led Zeppellin, Black Sabbath, Rush, Metallica (época Ride The Lightning), Emerson, Lake and Palmer... Músicas que eram IMPOSSÍVEIS de escutar em qualquer outra rádio, mesmo aquelas que traziam a alcunha de ecléticas ou de rádios rock. O capitalismo selvagem matou a Fluminense. Sem patrocinadores, a rádio foi obrigado a fechar as suas portas, voltou ás atividades alguns anos depois, com outra proposta e novamente, já não existe.


Lá pelos idos de 2000, a rádio Cidade, uma rádio cult e querida pela população do Rio de Janeiro, resolveu assumir as rédeas do rock no estado. Com promoções, com divulgação, dando força aos eventos ligado ao estilo tanto no estado, como em outros países. Se não tínhamos uma postura tão heróica e underground como a Fluminense, ao menos podíamos escutar novidades como o foi o caso do Evanescence, que estorou no Rio de Janeiro, graças à execução “infernal” da canção Going Under (que fazia parte da trilha sonora do filme horroroso O Demolidor) no dial 102,9. Resumindo o coreto, a iniciativa privada, representada por uma operadora telefônica, arrendou as várias dívidas que esta honrosa rádio possuía - porque rock gente, não dá lucro - e, perdemos a única rádio, que essencialmente, tocava o ritmo mais alucinante do mundo.

E você deve estar se perguntando: o que este breve histórico destas duas rádios tem haver com o propósito textual de falar de como anda o rock no Brasil? Pois bem. É que tal qual as rádios, nossos mais tradicionais representantes do rock nacional, principalmente dos anos 80, resolveram acender uma vela para as rádios (que no Brasil inteiro perdem sua força) e dormiram lentamente ao lado de seus caixões.

O que vimos nos últimos 5 anos de produtivo deste segmento foram inúmeros acústicos, CDS ao vivo ou discos de inéditas, que ora eram ousados (como o Puro Êxtase do Barão) ora eram manjados (como a coletânea As 10 mais dos Titãs) e que nada apresentavam de sedutor pro ouvinte.

O texto poderia ser um tratado se fosse falar da trajetória de bandas que, eram arte na pureza da essência da palavra e que “esqueceram” suas “pretensões” no meio do caminho. O leitor se enfadaria por exemplo, se fossemos falar de 2 acústicos, 1 ao vivo, 1 de cover e 2 inéditos discos dos Titãs nos últimos 10 anos. 2 discos inéditos em 10 anos...

O que dizer de Barão?

O que dizer de Capital Inicial, que, aproveitou seu unplugged e rejuvenesceu. Porém a fonte da juventude só veio carregada de maquiagem, porque canções como Música Urbana 2, Fátima e Mickey Mouse em Moscou, são coisas do passado. O negócio é Natasha. Canções que em nada lembram as parcerias bem sucedidas de Fé Lemos com Renato Russo (Aborto Elétrico) ou mesmo as belas baladas como Belos e Malditos, outra incursão de Renato junto com os candangos. Ouço de alguns que Capital agora é música de adolescente. Que fosse, que seja. Eu quando era adolescente, ficava encasquetado (termo velho hein?) com letras como Brasil (Cazuza), como Que País é Este (Legião Urbana), Fátima, do próprio Capital, Tribos e Tribunais (Engenheiros do Hawaii), Lanterna dos Afogados (Paralamas do Sucesso), Carta aos Missionários (Uns e Outros), Extraño (Nenhum de Nós), Polícia (Titãs). Apenas usei o exemplo de Barão e Capital. Poderia falar de Ira!, De Nenhum de Nós, de Biquini Cavadão, de Ultraje, de Plebe Rude, de Engenheiros...

Talvez, você, jovem leitor, pense comigo que isto apenas seja parte da biografia da discoteca de um autor nostálgico e acho, que até certo ponto, você tem razão. Pra mim, é uma pena, que diante de tantos progressos na disseminação da arte no Brasil, na revitalização do cinema brasileiro, numa valorização do teatro, no surgimento de novos comediantes, no acesso a novas exposições de pintura, de esculturas (o Brasil definitivamente entrou no calendário), a música popular brasileira, continue "pertencendo" aos dinossauros respeitados por crítica e publico, como os Srs. Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, ás cantoras de voz grave (sem pre-conceito algum) como Ana Carolina, Isabela Taviani, Zélia Duncan, ás tribos emos e ás cópias do hardcore californiano (cópias bem feitas)como Charlie Brown Jr, CPM 22... mas os "meus velhinhos", mandaram parar as máquinas.

Depois de todo este discurso, o que quero em suma dizer, é que, a música hoje não me emociona, não me cativa, não me seduz. Principalmente o rock, da qual sou fã há duas décadas. Não me faz levantar da cadeira, pegar o violão, ir ao teclado pra tentar tirar*. Minha banda preferida resolveu sair de férias por tempo indeterminado(se Renato Russo dissesse que iria sair de férias da Legião Urbana, lá pelos idos de 86, 87, seria ameaçado de morte... hehe) e meus heróis ingleses (Coldplay, U2, Oasis...) resolveram dar uma sumida. Então, estou órfão.

O Rock Brasileiro vai assim... Entre Detonautas da vida e Cansei de Ser Sexy (não consigo gostar de 1 música), entre Cachorro Grande e Bidê ou Balde... Tudo muito misturado e propositalmente, sem identidade, sem DNA. Nada contra. Arte é arte, mas que saudade...

* Tirar é tentar tocar uma música "quase igual".

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SoSuechtig, Burajiru