quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

"Se alguma coisa se perdeu é que as palavras me faltaram quando mais eu precisei"*


Uma notícia me fez chorar. Não foi a queda do Corinthians. Que ele continue caindo até chegar ao fim do poço. Não foi um pastor(+1) de 50 anos, que anda pregando em sua igreja, no interior do Espírito Santo, que um homem deve ter 7 mulheres, segundo a Bíblia. Inclusive, já fez uma amostra grátis dos seus ensinamentos com uma de suas beatas. Com anuência do maridão-cristão-corninho. Segundo a irmã que foi para cama com o pastor, não houve prazer, “foi do Espírito, foi de Deus”. Não isso não me fez chorar, isso me fez rir. O que me fez chorar nesta manhã de quinta foi saber que uma menina que cursa 6ª série num colégio do interior do estado do Rio Grande do Sul perdeu 90% da sua visão, pois um coleguinha resolveu brincar de estilingue na sala de aula. No estilingue, um giz. A menina, a princípio foi levada a um posto médico onde foi tratada com colírio. Sem efeito qualquer, foi encaminhada a um hospital a 100 km (!!!) da cidade, onde foi constatada a cegueira. Para que ela enxergue novamente precisa de um transplante de córnea. Isso me faz chorar. Meu Deus! Que tristeza. Tão nova, tão jovem. Por conta de uma idiotice, de uma bobagem sem tamanho, corre o risco, de numa cidade tão pequena – Vacaria – desde cedo (com todas as dificuldades que implicam nisso), ter sua visão parcialmente comprometida. Eu chorei. Coloquei-me no lugar da menininha, dos pais. Há cegos que enxergam muito bem e gente que pode ver e perde a visão por conta de um estilingue. No quintal? Na rua? Na praia? Num parque florestal? Não. Na sala de aula.

Na sala de aula a gente aprende a enxergar o mundo. Universidade, quando encarada de forma bonita, é uma lição e tanto. Nós, brasileiros, aprendemos que o nível superior é apenas um degrau pra se conseguir fazer concursos que nos paguem um salário decente. Nada contra querer ganhar mais. Nada contra querer ter mais. Mas universidade não é só isso. É saber. E é um espelho eficiente da nossa miserabilidade. Isso quando não mostra seus feixes de luz para o quadro negro e mostra de lá: mais incapacidade, mais falta de condições, mais toda a “fartura” de tudo. Eu sou um cara completamente diferente na sala de aula. Acho até que sou mais feliz. Ser ninguém me faz feliz. Ser um eterno dependente da estrutura da sapiência, me deixa contente porque saber que não se sabe é uma das únicas maravilhas de se achar vazio. Não me incomoda o erro. Não me atrapalham as falhas. Elas vão torneando o vaso e tornando-o cada dia mais preparado para encher, encher, encher... A gente conhece gente interessante, gente que agrega conhecimento, empírico e acadêmico, que te acrescenta, que te dá aquele gostinho de inveja santa, com frases mentais do tipo: “Poxa, queria ter dito isso desta forma...”.

“Solidão é estar sozinho duas vezes”

Há uns 13 anos eu escrevi isto num poema que já não existe mais. Quem leu me perguntou o que isso significava. Do alto dos meus 20 anos, eu dei a seguinte explicação:

Ninguém quer estar sozinho. Ninguém deseja a solidão. Todo mundo quer a companhia de alguém. Na solidão, há uma possibilidade de estar só, duas vezes dois.

A primeira

Você e você. A solidão no seu estado máximo. Porém, quando você ultrapassa a fase da concordância pessoal, você se divorcia de si mesmo. Auto-estima em baixa, tristeza em alta. Você está sozinho, duas vezes.
A segunda

Sua solidão. Seu status de alma. Seu amor não correspondido. Mas ela(e) tem alguém. No seu coração egoísta você acha que aquele alguém que completa seu desejo de companhia não está com a pessoa certa. Daí você idealiza a solidão de outrem e sua própria solidão. Você está sozinho, por você e pelos outros.

A segunda explicação foi a mais próxima do escrito, hoje, lendário.

Eu e Deus

Esta expressão é mais positivista do que eficazmente compartilhada. Eu e Deus neste mundão. Não. Geralmente nós vivemos e tomamos as nossas decisões e damos as nossas respostas, os nossos silêncios, as nossas idéias. É só um positivismo bonitinho, mas esta dupla tá mais pra lá do que pra cá.

... Mas nestes dias, eu senti uma sensação muito gostosa. Uma sensação invisivelmente presente. Uma companhia sugestiva, surdamente falante. Eloqüente no coração. Duramente presente. Em cada passo, em cada reflexão, em cada ausência de tv e de computador, em cada descida no elevador, em todo ponto de ônibus, em cada mastigação. Eu senti a presença do alívio. Era eu e Deus. Ou melhor, era Deus e eu. A reboque e com muita paciência, percebi alguém me esperando, me aceitando, me aguardando atravessar a rua, o rio, a ponte. Ele estava lá e aqui. Do outro lado da rua e ao meu lado. Decidi não mais ficar parado e atravessar. Atravessei. Agora estou aqui.


Tentando ser um bom Paul Rabbit




Deste lado não vejo mais o outro
E pra dizer a verdade o esquecimento é minha cegueira
Quanto mais disfarço a caminhada
Enxergo o passado neste carro desvairado

Quem está comigo está numa outra estrada
Me vê de longe e não se importa mais com nada,
Com tantas vontades no coração só dá vontade
De sentir um coração por vez.

Tome cuidado.
Tome com força.
Essa vida é demais pra sua boca.
Pierrot

* Trecho de "Todos os Sonhos do Mundo" - O Barco Além do Sol (Marcelo Bonfá)

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