sábado, 21 de junho de 2008

Dois Fãs e Suas Impressões - O Início do Fim

Escolhi como tema das minhas despedidas, falar sobre a banda que resolveu parar por tempo indeterminado. Depois dos RAIMUNDOS, LOS HERMANOS para mim, foi a banda mais criativa que apareceu nos últimos 15 anos. Depois da LEGIÃO URBANA, foi o conjunto que mais soube usar a lingua portuguesa, utilizando o sintagma (a palavra) com beleza, simplicidade. Sua música não tem como marca a autenticidade. Não. Aliás, no campo musical, ser autêntico e original é muito difícil, a começar pelas restritas 7 NOTAS MUSICAIS, mas enfim, isso é um outro assunto. A banda merece minha homenagem, além da minha espera. Alega precisar de tempo, para se dedicar a outras atividades. Aliás, eu compartilho, preciso de tempo para me dedicar à outras atividades e é também por isso que encerrarei as atividades do Diário do Pierrot. Pedi á dois amigos que escrevessem suas impressões sobre a banda, e desta vez, me abdico de escrever. Senhoras e senhores: meu amigo André Rocha e a jornalista Taís Morais, dois fãs e suas impressões.

Los Hermanos – um ano sem o grupo, mas não sem a música (Taís Morais)

Foi despretensioso.
Na verdade, o amor pelo grupo nasceu de repente.
Eles começaram em 1997, no RJ. Eu morava no Rio, e de longe gostei do rock – para mim super pesado e barulhento – que eles apresentaram em 1999.
Foi um frisson, em todas as rádios se ouvia a tal da Anna Júlia e eu corria daquela febre que alcançava todo mundo na minha faculdade.
Um dia, eu ia, Anna Julia, que eu detestava, já tinha ido e o Bloco do Eu Sozinho vinha...
Foi amor à primeira audição...
O disco não causou o mesmo alvoroço no meu ciclo de amizades. Um CDzinho nada pop, dizia uma colega. Resolvi prestar atenção e amei de paixão a música “Veja Bem Meu Bem”. Parecia ter sido feita para mim...
Em 2003, o grande disco!
Ventura, para minha ventura.
E eu, como sempre, me encantei com a música que de longe foi a que caiu nas graças do povo. Eu amei mesmo foi “Do Lado de Dentro”. Eles tinham acertado minha alma de novo...
O disco me encantou pela singela e calma seleção escolhida para a Obra.
O disco virou meu acessório indispensável.Todas as noites eu dormia com Marcelo Camelo cantando para mim. Só depois que eu caía no sono ele parava.
E fui passando meus dias.
Eles vieram à Brasília algumas vezes, e para minha frustração, em nenhuma delas consegui vê-los. Estava sempre viajando a trabalho nas datas.
Uma vez eles tocaram num local extremamente fora de mão. Foi aí que desisti de ver o show. Embora fosse pagar bem barato, preferi comprar o DVD.
Desse dia em diante, começaram meus pesadelos.
O DVD não tinha minha música preferida,
O quarto CD não era nem de longe melhor que os outros,
Os Los Hermanos anunciaram seu último show no RIO.
Como é que é, meus irmãos???? No Rio? Caramba! Isso é uma injustiça.
Nenhuma turnêzinha para dizer adeus aos fãs não-cariocas?
Nenhuma explicação para o fim?
Nada que amenizasse a perda de um dos poucos grupos musicais que apareceram nos anos 1990/2000?
Ah, esse negócio de ser fã é duro mesmo!
Não fui à despedida, não sei o que fazem os meus prediletos e nem sei se um dia voltarão.
Só sei que ainda durmo com a voz do Camelo e do Amarante.
Como a esperança é a última que morre, (até por isso nunca me casei com um homem cuja mãe tivesse este nome), ainda espero que eles ressurjam das cinzas com um CD que vá tocar fundo o meu coração e de todos os outros fãs que eles deixaram órfãos há um ano...

ÍDOLOS (André Rocha)

Não há como esse texto em homenagem a uma das melhores e mais influentes bandas da História do pop/rock nacional não ter um caráter confessional.

Depois da morte de Renato Russo em 96 e o mergulho na vida adulta, com casamento, trabalho e estudos, era difícil me ver novamente arrebatado pelo trabalho de alguma banda ou artista. A fase das descobertas adolescentes tinha passado e, com a chegada da Internet e o fim da magia dos discos de vinil, minhas esperanças de um novo encantamento tinham se extingüido.

Em 99, eu e o Brasil conhecemos e nos cansamos de "Anna Júlia", tal a massificação da música e da imagem de banda que surgia. O primeiro disco era irregular, confuso, mas com algumas boas canções, que passaram batidas pelo megasucesso onipresente.

Nunca mais ouvi falar neles. Aliás, só um burburinho de uns amigos "indies", que me deixavam confusos. Afinal, por que eles estariam elogiando uma banda tão "pop"?

Enfim, em 2004, ao ouvir o CD de estréia de Maria Rita, presente para a Cláudia, fã de Elis Regina (na época era impossível não fazer a "conexão"), me chamou atenção as três canções do compositor Marcelo Camelo, um nome que não me era estranho. Uma pesquisa e um papo com aqueles amigos de gosto "alternativo" me fizeram ouvir o segundo disco, comprar o terceiro, lançado no ano anterior, e passar a ouvir diariamente aquela banda subestimada no meu inconsciente.

A grande virada, muito comum entre os neófitos, veio com o show, no final daquele ano. Show não, uma verdadeira celebração que era ainda mais impactante porque apenas uma ou duas músicas tocavam no rádio e todas as canções eram recebidas com paixão e entoadas com algo próximo do fanatismo, mas tudo de forma alegre e incrivelmente pacífica, se formos pensar numa casa lotada de jovens ansiosos e agitados. Ali, entrando em êxtase junto com público e banda, a emoção de estar em um show voltou, embalada em versos tocantes e profundos emolduradas por uma riqueza musical rara. A conexão estava estabelecida.

Até 9 de Junho de 2007, foram mais oito shows, seis da turnê do "4", o trabalho desigual de 2005, que, se tinha alguns momentos brilhantes como "Dois Barcos" e "O Vento", mostrava também uma banda se desmembrando em duas, com o tecladista Bruno Medina e o baterista Rodrigo Barba tentando desesperadamente, nos arranjos, encontrar pontos de contato entre as díspares composições de Marcelo Camelo, mais silencioso e contemplativo, e Rodrigo Amarante, explosivo, rock'n'roll e com mais espaço para suas músicas e performances.

No último show antes do "recesso", a sensação de despedida na Fundição Progresso era sufocante. Doía ver o fim de uma etapa na carreira dos caras que praticamente ressuscitaram algo juvenil em mim e que contribuíram enormemente para a formação musical e intelectual de muitos jovens (assim como Renato Russo fizera comigo nos anos 80), que descobriram Chico Buarque, o samba, a salsa e tantos outros estilos.

Mais que isso. Com "O Bloco do Eu sozinho" e "Ventura", os Los Hermanos escreveram dois capítulos dos mais belos e enriquecedores da música em nosso país. Uma coleção de canções que muitas bandas dariam um braço e uma guitarra pela autoria. Aqueles barbudos esquisitos tinham se tornado o arauto de sua geração e, seguindo uma coerência há muito perdida no meio em que circulam, saíam de cena antes do "piloto automático".

A volta continua uma incógnita, ainda que seja assegurada pelos quatro. Mas um ano e dois dias depois daquela noite fria e de um certo desamparo na Lapa, fica a lembrança de um tempo em que a vergonha por se sentir cronologicamente deslocado era superada por uma devastadora alegria por entrar em comunhão com uma atmosfera de comoção e uma santa ingenuidade que faziam bem e tinham um quê de redenção.

1 comentários:

Nelson disse...

Bye Pierrot.
Uma pena.
Mas um abraço!

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